Percebendo o Mito da Beleza
Lançado na década de 90, o livro da escritora Naomi Wolf, O Mito da Beleza, deve ser lido por todas as mulheres que querem entender um pouco sobre feminismo e sobre a posição da mulher na sociedade.
Que quer entender o quanto a luta das mulheres são travadas desde antes da década de 90 e desde quando várias operarias norte americanas, cerca de 130, morreram queimadas por lutarem pela redução da jornada de trabalho e pelo direito à licença-maternidade. Essa data é mundialmente conhecida como 8 de março, o dia internacional da mulher.
Que luta todos os dias, nesta sociedade machista, a conquistar um lugar de fala. No meio corporativo essa percepção é ainda maior e gritante. Não sei porque, mas me veio a cabeça a super talentosa Gabriela Prioli. Quem acompanhou na CNN ou no Twitter sabe do que eu estou falando.
2020, ano que em que eu começo e finalizo a leitura do livro. Tenho, uma triste constatação, 30 anos depois nada mudou, muito pelo contrário, só tem piorado. Afinal, agora dentre todas as nossas lutas, temos uma muito grande: não sermos mortas.
É forte, é, e não posso ignorar esse fato. Esses dias atrás, vi no Jornal Nacional que o feminicídio em Mato Grosso, estado que eu moro, teve um aumento de 200% nesse tipo de crime.
Mulheres são ridicularizadas pela sua beleza (se conquistou algo, não foi pela competência, foi pela beleza) ou pela falta dela.
Vivemos em uma sociedade machista, fomos criadas por mães machistas, porque elas também foram criadas por mães machistas, é um ciclo e como se livrar do estigma, como?
Eu não tenho essa resposta, penso que estamos em processo de constante desconstrução, mas fique atenta/atento (isso serve para os homens também), em como vocês irão criar seus filhos, sejam eles menino ou menina.
Mulheres são questionadas e julgadas pela roupa que veste, e se é estuprada, mereceu, é bem assim mesmo. Mulheres julgam outras mulheres e cadê a sororidade? Cadê a empatia? Estamos bem no começo desse caminho, e continuo dizendo que também isso é parte de todo um processo de construção/desconstrução.
Não vou dizer que nunca julguei, nunca critiquei e tenho certeza que já fui julgada e criticada seja por minhas falas, meu modo de agir, vestir….
Somos julgadas pelo nosso corpo e isso nos magoa profundamente. Não vou nem citar aqui o fato da cor da pele e do cabelo, porque a dor que carregam essas mulheres ainda é muito maior.
Como diz a música “Pretty Hurts” da Beyoncé…
” Pretty hurts | We shine the light on whatever’s worst | Perfection is a disease of a nation | Pretty hurts, pretty hurts | Pretty hurts | We shine the light on whatever’s worst | You tryna fix something, but you can’t fix what you can’t see | It’s the soul that needs a surgery….”
Em tradução para o português
“A beleza dói | Mostramos o que temos de pior | Perfeição é uma doença da nação | A beleza dói, a beleza dói, a beleza dói | Mostramos o que temos de pior | Você tenta consertar algo, mas você não pode consertar aquilo que não pode ver | É a sua alma que precisa de cirurgia”
É bem por aí, viva a diva Beyoncé. Uma mulher preta que conquistou muito, mas mesmo assim sofre por sua cor e também quando está acima do peso, já foi muito julgada. Ou seja, nenhuma mulher está salva. Agora, na era da tecnologia e das redes sociais… Todos os dias uma mulher é cancelada. Fato!
Olha esse paragrafo retirado do livro e que me chamou bastante atenção, você concorda “o envelhecimento na mulher é ‘feio’ porque as mulheres com o passar do tempo, adquirem poder e porque os elos entre as gerações de mulheres devem ser rompidos. As mulheres mais velhas temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza mutila o curso de todas”
O livro é dividido em: trabalho, cultura, religião, sexo, fome e a violência. Todos esses temas impactam diretamente na vida das mulheres, e impactam de forma bem mais negativa do que positiva.
Fome, sim, fome para o corpo perfeito, fome para o desenvolvimento de algumas doenças relacionadas a distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia.
Violência, sim, quando mulheres são submetidas a intervenções cirúrgicas que as deixam com dores terríveis por muito tempo, afinal “é preciso sofrer para ser linda” como diz o provérbio chinês. Sem dizer na violência doméstica que permeiam o nosso cotidiano.
Sexo, sim, do uso do corpo da mulher, do uso como objeto sexual, da pornografia, da repressão sexual feminina…
Religião, sim, mas não se trata da religião que conhecemos, mas da religião da beleza, dos padrões impostos pela sociedade, do pecado da gula, porque cuidado, você pode engordar.
Cultura, sim, das revistas femininas, dos recados que não são sentidos por elas, e com isso o advento dos anúncios, anúncios estes que muitas vezes não era e ainda nos dias de hoje não é o reflexo de mim ou mesmo de você. Uma pena que a publicidade demorou tanto para entender que a grande maioria das “garotas propagandas” nas capas ou editoriais das revistas não refletem a realidade. Sou de uma geração de publicitárias que querem mudar esse cenário.
Trabalho, sim, da falta de espaço, da falta de salários iguais. Lembra do movimento das atrizes de Hollywood sobre o porque elas não tinham os mesmos salários ou espaços dos homens? Isso aconteceu ontem e o livro foi escrito em 1991, é triste e decepcionante.
Com 417 páginas de leitura, tirando agradecimentos, notas, bibliografias, o Mito da Beleza é uma leitura de suma importância para nós mulheres, e também para os homens, afinal, são séculos de luta.
Para os homens, se colocar no lugar de nós mulheres pode ser um pequeno, mas ao mesmo tempo, um grande passo para uma mudança e para nós mulheres, que não nos falte garra para continuarmos lutando e quem sabe nossas futuras gerações possam desfrutar de um mundo melhor.