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Postado por em set 16, 2011 em Variedades | 1 comentário

Missing

Missing

Ela se despediu com um beijo enquanto ele ainda dormia.

Era um domingo nublado, daqueles que não se arrisca pôr um pé fora da cama nem para ir ao banheiro.

Era um domingo preguiçoso igual a todos os outros, uns trabalham, outros dormem até mais tarde, crianças correndo e fazendo bagunça. Mas não aquele.

Naquela manhã ela acordou cedo. Nem o corriqueiro despertador havia executado seu árduo trabalho de todas as manhãs, indicando a derradeira hora. Seis horas.

Mas desta vez não. Ele já não era mais necessário. Ela despertou-se de súbito, mas não se moveu. Preferiu manter-se imóvel na cama, coberta por seu velho lençol vermelho de cetim que ganhara de uma amiga.

Era escuro ainda, o sol nem despontava no céu que já não tinha mais estrelas, as mesmas que um dia lhe serviram de inspiração para doces beijos.

A noite havia sido bela como tantas outras, com uma lua cheia clareando o céu e quase sem nuvens.

Permaneceu ainda por alguns minutos com os olhos abertos pensando sobre a vida que levara
nos últimos três meses, porém já acordara certa de sua decisão.

Virou-se e observou por alguns instantes aquele que dividia a cama com ela, suas mãos repousavam juntas e tranquilas acompanhando o suave respirar indicando o cansaço do dia anterior.

Residia ainda em seus lábios o gosto do beijo que ela lhe dera antes de adormecer.

Ela sempre detestava quando ele virava-se e dormia sem abraçá-la, pois sempre via nos filmes casais felizes dormindo abraçados, e por mais que ela soubesse que aquilo era ficção, sempre associou que dormir abraçado era sinal de felicidade no relacionamento e ela desejava esta felicidade.

Calmamente se sentou na cama dando uma examinando melhor no quarto. Faltava tudo.

Na cômoda em frente à cama apenas alguns cremes hidratantes e perfume que trazia consigo desde antes de morar com ele, um estojo de maquiagem que já a acompanhava tinha um bom tempo e muitas folhas espalhadas contendo rascunhos, desenhos e textos de estudos.

Pelo chão se viam muitas coisas jogadas. O calçado que ele usara na noite anterior, peças de roupa suja, meias e um velho violão no canto do quarto. Ela detestava aquilo.

Com um leve esforço se dirigiu para o banheiro onde se deparou com a velha goteira na pia que ele prometera consertar faziam duas semanas, mas que ele não se incomodou com isto. Não hoje.

No espelho refletia uma imagem deturpada. A bela imagem de um ano atrás desaparecera como
uma flor que se murcha. O cansaço e as brigas desenhavam traços de velhice no belo rosto de outrora.

Os lindos cabelos compridos e lisos já não tinha o mesmo brilho e maciez que sempre tiveram.

Ela estava definhando e sabia disto, e temia isto mais do que qualquer coisa.

Veio à garganta aquela velha vontade de chorar, mas ela soube controlar, afinal ela era forte.

Já não era aquela menina emotiva que chorava a toa por qualquer bobagem. Isto era sinal de fraqueza e ela não era fraca.

Olhou ainda mais uma vez seu rosto no espelho antes de despir-se.

Tirou cuidadosamente seu pijama e pendurou nos ganchos atrás da porta do banheiro.

Ligou o chuveiro e deixou a água quente formando uma fraca cortina de vapor. Hesitou antes de deixar seu corpo molhar pela água que corria fortemente.

Não reclamou da falta do seu shampoo favorito e seus diversos cremes e sabonetes líquidos que há muito não utilizava.

Deslizou sua mão por todo o corpo segurando o rústico sabonete que lhe causava desconforto.

Permaneceu ali de pé embaixo do chuveiro por algum tempo antes de sair de se enxugar.

Ela tentava entender porque as coisas estavam daquele jeito entre eles. Buscou entre um devaneio uma resposta, mas não encontrou.

Vestiu seu mais belo vestido, maquiou-se como há muito não fazia. Passou um belo batom rosa, lápis e blush, calçou seu salto preferido, pegou uma discreta bolsa preta.

Encontrou dentro alguns trocados e seus cartões de crédito. Era suficiente.

Entre os papéis espalhados na cômoda, encontrou um que ainda não havia sido riscado.

Pegou uma caneta e rabiscou umas linhas que expressavam tudo que ela sentia, e despedia-se dizendo que não tinha mais condições de continuar assim, que ali não era o seu lugar.

Foi até ele, beijou-lhe o rosto cuidadosamente para não acordá-lo, pegou as chaves do carro e segui em direção à porta fechar-se atrás de si.

Sabia que seria melhor assim, sem despedidas.

Só não sabia que ele nunca chegaria a ler o bilhete e nunca notaria a falta dela.

Enquanto dirigia para o aeroporto, em busca de uma nova vida, ele dormia tranquilo.

Ele respirou fundo uma última vez enquanto o pesado sono o mantinha inconsciente.

Então seu coração parou de bater. Calmo, sereno e sozinho em seu apartamento.

Mr Raven Hood

1 Comentário

  1. Adorei o texto, Babi! Você tem talento para escrever, com certeza!!!! Parabéns! Beijos!

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